Um dos ícones da cultura e da identidade marajoara, os grafismos dos povos ancestrais da Ilha do Marajó, serviu de inspiração para peças do vestuário e acessórios de 10 marcas que estiveram presentes no 2º Desfile da Coleção ‘Cápsula Marajó’, que ocorreu na noite dessa terça-feira (30), no Parque Estadual do Utinga, em Belém. A passarela montada no local foi tomada por camisas, vestidos, artigos de moda praia, chapéus e outros acessórios. A trilha sonora do grupo de tradições marajoaras Os Aruãs, de Soure, ditou os passos dos modelos.
Rosilda Angelim, dona da empresa Cañybó, se apaixonou pelo mundo da costura ainda na infância, ao ver a mãe, alfaiate, exercendo o seu ofício. Rosilda nasceu na comunidade quilombola Bairro Alto, em Salvaterra, e se mudou para Soure com a família aos cinco anos de idade. Hoje, aos 54, tem sua própria marca, registrada há dois anos e com clientes fora do país. No desfile em Belém, a Cañybó apresentou nove peças. “A nossa expectativa é sempre levar a nossa cultura, falar de uma maneira responsável do Marajó, mostrar nossa ancestralidade e contar uma história a partir das nossas peças”, disse.
O diretor-superintendente do Sebrae no Pará, Rubens Magno, destacou a importância da inciativa e revelou que a ideia era fazer algo disruptivo para lançar a coleção de moda autoral “Cápsulas do Marajó”, que faz parte do projeto Polo de Moda do Marajó e cujo lançamento foi realizado em Soure, na Ilha de Marajó, no dia 17 de abril.
“O objetivo é mostrar para o mundo, incialmente para Soure e agora para Belém, que nós temos uma cultura linda e que precisa se expandir além das cercanias do Pará e da Amazônia. Por isso, quando nós pensamos neste evento, em conjunto com o Senai e o Senar, o principal objetivo foi termos uma grande possibilidade de, na COP 30, fazermos com que pessoas do Pará possam, por meio da ancestralidade do Marajó e de outros povos, entregarmos a cultura legítima do Pará para o resto do planeta”, explicou.
A secretária de Cultura do Estado do Pará, Úrsula Vidal, representou o governador Helder Barbalho e destacou a importância da cultura marajoara e de seu acervo arqueológico. “Hoje, as pesquisas arqueológicas têm cada vez mais se aprofundado e comprovado que esta, que era uma tese e que hoje se comprova, o fato de que nós temos povos ancestrais habitando essa região há mais de 12 mil anos, com uma complexidade cultural, linguística, pictórica e simbólica”, frisou a secretária.
Os grafismos marajoaras foram descobertos a partir de escavações e servem de fonte de inspiração para artesãos, bordadeiras e agora para costureiras da Ilha do Marajó, contribuindo para a geração de emprego e renda às famílias do local e para reafirmar a identidade cultural dos povos da região.
Em Belém, foram 80 peças no desfile, que teve o apoio da Organização Social Pará2000 e da marca Seringô, que cedeu os calçados fabricados com matérias-primas vegetais, usados pelos modelos que participaram do desfile.
Para o prefeito de Soure, Carlos Augusto Gouvêa (Guto), o projeto é a realização de um sonho e algo muito importante para o município. “Tudo surgiu para que nós pudéssemos empreender de forma mais correta. E poder fazer isso falando da nossa cultura, da nossa arte, capacitando nossas artesãs, capacitando as nossas costureiras, foi acertar no caminho”, concluiu o prefeito.
Capacitação e lançamento
Antes de apresentarem suas peças, as costureiras e estilistas passaram por uma capacitação, que envolveu várias etapas e a participação de 48 empreendedores de Soure. O conteúdo da formação envolveu desde a produção de peças até a gestão do negócio, abordando temas como gestão financeira – formação de preço e finanças do negócio.
“Fizemos as capacitações técnicas com o curso de costura industrial. Agora, estamos fazendo uma especialização em camisaria e vamos fortalecer essa parte de gestão, nesse segundo semestre”, detalha a analista do Sebrae, Selma Sousa.
A ação, realizada em Soure, foi a primeira etapa de trabalho do Polo de Moda do Marajó. A próxima fase do trabalho deve iniciar em maio, com a capacitação de empreendedores do município de Cachoeira do Arari, onde o projeto também será implementado.
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Sobre o Polo de Moda do Marajó
O Polo de Moda do Marajó é composto, atualmente, pelo Coletivo Moda Marajó, que reúne 48 empreendedores de Soure, e pelas empresas Art’Genuina, Coletivo Moda Marajó, Cañybó, Amazônia Zen, Ná Figueredo, Isabela Sales Design, Madame Floresta, Mãos Caruanas, Seiva Amazon Design e Val Valadares. Em breve, outros empreendedores, de Cachoeira do Arari, integrarão o grupo.
O Polo é resultado da parceria entre o Governo do Estado do Pará, o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Pará (Sebrae/PA), Prefeitura Municipal de Soure, Prefeitura Municipal de Cachoeira do Arari, Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), que assinaram um convênio, em agosto de 2023.
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