Lideranças internacionais, representantes do governo brasileiro, especialistas em economia verde e o Sebrae participaram, na Blue Zone da COP 30, de um debate que reforçou a urgência de transformar compromissos climáticos em ações concretas capazes de gerar desenvolvimento, prosperidade e inclusão social na Amazônia. A mesa reuniu Rubens Magno, diretor-superintendente do Sebrae no Pará; Bruno Quick, diretor-executivo do Sebrae Nacional; Julia Cruz, secretária de Economia Verde do governo federal; Alice Amorim, representante da presidência da COP; e Paul Polman, referência global em sustentabilidade.
Proposto pelo Sebrae, o encontro destacou que a transição climática só será bem-sucedida se melhorar a vida das populações amazônicas, especialmente comunidades tradicionais, mulheres empreendedoras, jovens e cooperativas que atuam nas cadeias da bioeconomia. Representantes da instituição apresentaram iniciativas que já vêm transformando o cotidiano de pequenos negócios na região, como programas de aceleração, capacitação e apoio técnico que têm permitido que empreendedores avancem do modelo artesanal para operações competitivas de mercado, mesmo em territórios isolados.
Entre os exemplos citados estão startups apoiadas por programas de inovação e projetos que fortalecem empreendedoras ribeirinhas, além de iniciativas de logística em ilhas do Baixo Tocantins e parcerias internacionais voltadas à estruturação de cadeias produtivas da bioeconomia.
O diretor-superintendente do Sebrae/PA, Rubens Magno, ressaltou que a Amazônia não deve ser vista como obstáculo, mas como a maior oportunidade de desenvolvimento sustentável do século. “A Amazônia precisa ser a protagonista de seu próprio desenvolvimento, e estamos trabalhando para garantir que nossos empreendedores sejam parte central desse processo”, afirmou.
Bruno Quick reforçou que o Sebrae está presente “todos os dias, em todos os municípios”, e que o desafio climático exige respostas tão rápidas quanto as que foram implementadas durante a pandemia, mas com impacto duradouro. “O clima já dita o ritmo. Fenômenos extremos como ciclones no Brasil mostram que as decisões precisam ser rápidas e integradas. A bioeconomia não é apenas adaptação: é um novo modelo de desenvolvimento.
Cerca de 28 milhões de brasileiros vivem na Amazônia, sendo 6 milhões em áreas de florestas, muitas sem acesso à capacitação tecnológica e infraestrutura para agregar valor à produção local.
A representante do Ministério da Fazenda, Carolina Grottera, detalhou o Plano de Transformação Ecológica e ressaltou que o governo trabalha para identificar as cadeias produtivas do futuro, com políticas baseadas em qualificação profissional, inovação e inclusão social. Ela citou a parceria com o Ministério da Educação para direcionar investimentos do programa Propag à expansão do ensino técnico em regiões com potencial para setores como biotecnologia, bioinsumos e combustível sustentável de aviação. “É impossível falar de transição verde sem considerar a realidade dos pequenos negócios. A taxonomia sustentável brasileira foi desenhada para não criar barreiras para micro e pequenas empresas, mas oportunidades”, afirmou.
A secretária Júlia Cruz apresentou uma iniciativa que simboliza a integração entre governo federal, bancos de fomento, pesquisa científica e o Sebrae. Com apoio da Embrapa, foram mapeadas as necessidades tecnológicas de quatro cadeias estratégicas da Amazônia – açaí, andiroba, castanha e babaçu. A partir desse diagnóstico, o BNDES anunciou R$105 milhões para financiar máquinas e infraestrutura de cooperativas, enquanto o Sebrae contratou agentes de inovação territorial que atuarão por 24 meses junto a cada organização.
“Não basta entregar a máquina. É preciso garantir acesso a mercados, capacitação e planejamento de negócios. Queremos que o óleo da castanha, o açaí premium e outros produtos de alto valor fiquem nas comunidades, não só como matérias-primas vendidas a intermediários”, explicou Julia.
Paul Polman, referência global na defesa do capitalismo regenerativo, afirmou que a COP 30 será um marco para diferenciar compromissos reais de discursos vazios. “As pessoas têm direito não só de sobreviver, mas de prosperar. A transição climática precisa criar empregos dignos, renda e desenvolvimento local”, destacou. Ele alertou para a necessidade de ação imediata por parte de empresas e governos, tanto para proteger a Amazônia quanto para reduzir desigualdades e implementar mecanismos ambientais que funcionem na prática.
O debate reforçou que o enfrentamento da crise climática exige coordenação, velocidade e comprometimento político, sobretudo em uma região onde impactos ambientais e sociais convivem lado a lado com enormes oportunidades de transformação. A expectativa dos participantes é que a COP 30 seja um marco não apenas para o Brasil, mas para o reposicionamento global da Amazônia como fonte de soluções climáticas, econômicas e sociais.

