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Por causa dos filhos, técnica de enfermagem transforma a cozinha de casa em negócio

Com dois filhos autistas, ela faz parte dos 81% de empreendedoras cuja necessidade de cuidar dos filhos levou a abrir o negócio
Por Da Redação
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Ficar mais perto dos filhos, para acompanhar o seu desenvolvimento e ajudá-los a superar os desafios impostos pelo espectro autista, foi o que levou a técnica de enfermagem Patrícia Castro, de 44 anos, a largar seu emprego formal para investir em seu próprio negócio. O marido era gerente de vendas, mas também pediu demissão, há 20 anos, quando a primeira filha nasceu. “Empreendo desde que recebemos o diagnóstico dos nossos filhos. Temos dois filhos autistas. Sou técnica de enfermagem, mas eu tive de me reinventar e hoje a minha cozinha é a minha empresa”, resume Patrícia.

Patrícia está entre os 27 empreendedores que comercializam os seus produtos na 16ª Semana do MEI, que segue até essa sexta-feira (30), na Sede do Sebrae, em Belém. Ela também faz parte de um grupo de 81% de mulheres empreendedoras para as quais a necessidade de cuidar dos filhos influenciou, muito ou um pouco, na decisão de abrir o negócio. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADc) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), analisados pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Pará (Sebrae/PA).

“Eu procurei ver algo que fosse mais cômodo, que eu pudesse estar mais próximo dos meus filhos por causa do tratamento deles, acompanhamento terapêutico, porque não é fácil. Então, eu tive de me reinventar”, relembra a empreendedora.

Patrícia Castro é uma das 45 mulheres atendidas pelo Projeto Empreendedorismo Inclusivo, que faz parte do Programa Sebrae Delas Mulheres de Negócios. A analista técnica do Sebrae/PA, Vera Rodrigues, explica que o projeto foca em mães de pessoas neurodivergentes. “Essas mães precisam se virar sozinhas, pois a maioria é mãe-solo e não têm tempo porque precisam levar os filhos para a terapia e médicos. Então, elas buscam o desenvolvimento de algum negócio, artesanal, da gastronomia, que elas já faziam ou possuem habilidades para tal”, explica Vera.

Patrícia resolveu empreender para ter mais flexibilidade de horários para cuidar dos filhos – Foto: Carlos Borges.

Empreendedorismo está no DNA

Filha de empreendedores, Patrícia começou produzindo chopes gourmet em casa. Para vender o produto, oferecia nas ruas e para pequenos comércios próximos de casa. Logo depois, expandiu seus negócios e passou a oferecer café da manhã em sua casa, dando início ao Café da Patty, no conjunto Cidade Nova 6, em Ananindeua, Região Metropolitana de Belém-PA. A lanchonete é aberta apenas aos domingos, pois durante a semana ela participa de eventos e feiras.

“O meu diferencial é que eu promovo a inclusão alimentar. Eu faço muitas coisas para quem tem intolerância à lactose, ao glúten, restrição a açúcar e até mesmo alergia a suínos. Por exemplo, a minha maniçoba, eu faço sem porco, totalmente bovina. O meu vatapá, eu reinventei fazendo de pirarucu, para sair do tradicional frango”, detalha Patrícia.

Mas além da prosperidade dos negócios, a maior alegria dela e do marido é ver que toda a dedicação valeu à pena, com o desenvolvimento físico e cognitivo dos filhos. “Minha filha tem autismo, paralisia cerebral e microcefalia congênita. Autismo nível 3, daquele que ela precisa de muito suporte. Se eu não fosse a mãe que eu sou, de ter esse viés empreendedor e esticar o orçamento, a minha filha ia ser uma ‘acamada’. Mas hoje ela anda, se põe de pé e tem autonomia para caminhar para onde ela quiser”, destaca. Já o filho caçula, de 14 anos, é um autista funcional, segundo ela. “Ou seja, é um autista que tem grande possibilidade de ter uma vida normal. Ele está no oitavo ano, é ótimo em inglês, o hiperfoco dele é produção de vídeo. Ele tem canal no YouTube. Então, isso é o resultado de todo esses anos me privando de sair, de trabalhar fora para cuidar deles”, diz orgulhosa.

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Pará se destaca com o empreendedorismo feminino

A mesma pesquisa revelou a força das mulheres empreendedoras no Pará. A taxa de empreendedorismo feminino no estado é de 13,5% em relação à população feminina em idade ativa. No ranking nacional, o Pará fica atrás apenas de Santa Catarina, que registrou taxa de 13,8%.

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