Quem passa pelo estande 87 da Feira de Artesanato do Círio 2024 (FAC) se impressiona com a riqueza dos detalhes das peças reproduzidas da cerâmica de Santarém pelas mãos do artesão Jefferson Souza, da marca “Arte Tapajônica”. São vasos, estatuetas e rostos humanos, que se caracterizam pelo zoomorfismo, estética principal da grande tribo indígena Tapajós, que habitava à beira da cidade de Santarém, nas adjacências do Rio Tapajós, e que dominava essa arte.
Esse trabalho começou com meus avós, na década de 1930, e foi repassado de geração em geração, que aprenderam a arte da cerâmica e levaram para Santarém. Lá, meus avós montaram uma olaria, na década de 1970, e se interessaram pela cerâmica tapajônica e repassaram para meu pai, que logo depois, me ensinou essa arte de produção, de retomada da cerâmica tapajônica
Jefferson Souza – Artesão
O artesão conta que devido ao trabalho de reprodução das peças tapajônicas, se interessou pela arqueologia e hoje faz mestrado na área, no Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém. Ele destaca que o trabalho de reprodução ajuda a democratizar o acesso às peças históricas.
“Hoje tenho um estudo voltado para cerâmica tapajônica. Desde o século 18 essas peças saem de Santarém e ganham o mundo, chegam a Europa, América do Norte, e nunca retornaram para Santarém, então o próprio povo desconhece esse patrimônio. A réplica é uma forma de democratizar esse patrimônio e facilitar o acesso a essas peças que estão guardadas até hoje”, destaca.
No estande do artesão, dentro da FAC 2024, é possível encontrar reproduções de vasos, estatuetas e rostos humanos, que traduzem toda a cultura dos povos indígenas do Tapajós, além de cuias com pinturas tapajônicas. Em Santarém, o trabalho dele pode ser encontrado no Centro de Artesanato do Tapajós.
Tradição
Além da cerâmica de Santarém, dentro da FAC é possível encontrar essa arte tradicional traduzida em peças como vasos, pratos e artigos utilitários no estande “Cerâmica Família Santana”, do artesão paraense Guilherme Santana, um negócio familiar que existe há décadas no distrito de Icoaraci, em Belém.
Entrei em contato com a cerâmica há cerca de 50 anos, quando minha família se mudou para o distrito de Icoaraci, e tudo começou como uma brincadeira. Passava o dia no bairro do Paracuri, onde existem muitas olarias e me apaixonei por essa arte. Aprendi com os artesãos de lá, e a partir daí, resolvi levar esse ofício para minha vida.
Guilherme Santana – Artesão
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Ele conta que hoje está à frente dos negócios ao lado da filha, Maynara Santana e do genro, que o ajudam a comercializar e administrar a loja física no bairro do Paracuri, além de um ateliê para produção das peças, que também aceita pedidos de encomendas. Para a FAC 2024, o empreender trouxe uma coleção inspirada no Círio de Nazaré, que tem conquistado o público desde o início do evento. São pratos, vasos e réplicas de imagens de Nossa Senhora de Nazaré, mas também é possível encontrar cuias com cerâmicas tapajônicas.