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Mãe Juci D'oyá valoriza a ancestralidade da culinária que oferece na ilha de Cotijuba - foto: Larissa Bessa
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Quem conversa com a Afrochefa Jucilene Carvalho, conhecida como Mãe Juci D’oyá, logo percebe que a gastronomia que ela apresenta está fortemente arraigada nas tradições afro-brasileiras. A paraense, que é profissionalmente uma Baiana de Acarajé, fortalece a gastronomia afrodiaspórica – culinária trazida ao Brasil por meio dos povos africanos, que foram escravizados e forçados a vir para o país. “Mostramos a importância de se reconhecer como pessoas negras, brasileiros que fazem parte dessa miscigenação, que inclusive é também gastronômica. Nesse sentido, o acarajé, que está no Pará, também foi trazido pelos escravizados”, explica a empreendedora ao enfatizar que os terreiros de Candomblé são os grandes responsáveis pela manutenção do prato típico, pois neles são feitos tradicionalmente os acarajés.

Nesse Dia Internacional da Mulher, Juci D’oyá é mais um potente expoente que evidencia todas as conquistas das mulheres ao longo do século, pois nela é possível perceber a luta e a ancestralidade da culinária oferecida pelo Restaurante Acarajé da Juci D’oyá, que fica localizado na Ilha de Cotijuba, em Belém. São pratos de origem africana, como o acarajé, que enquanto alimentam, contam muito da história ancestral por trás deles.

Ela começou a empreender em 2017, na Praça da República, em Belém. Aí descobriu sua paixão pelo acarajé. Foi então que Juci D’oyá se profissionalizou na Bahia e se filiou a Associação Nacional das Baianas de Acarajé (Abam) – organização com baianas filiadas no Brasil e exterior – declarando-se a primeira com registro no Pará, mas não a única. “Essa é um pouco da nossa história, da nossa vontade de levar essa ancestralidade. Eu não vendo comida, eu vendo gastronomia afrodiaspórica”, explica.

O Acarajé

O acarajé produzido pelo Restaurante Acarajé da Juci D’oya segue fielmente as tradições ancestrais de preparo. Feito de feijão-fradinho, ela conta que usa o antigo moinho de passar café para quebrar o feijão; depois tira a casca para que fique uma massa branca, escoa e passa novamente a massa no moinho; é temperado com cebola e sal, em seguida é batido com uma colher grande, e, depois de moldado, os bolinhos são fritos no óleo de dendê.

Dentro desse bolinho vai o vatapá, que é diferente do vatapá paraense, pois ele é feito de massa de pão, ou as vezes preparado com o próprio feijão. Á massa de pão é acrescida várias iguarias como castanha de caju, amendoim e gengibre. “Acarajé é um alimento que foi preparado por Iansã para Xangô. Então, comer acarajé, comer ‘bola de fogo’, é comer ancestralidade, reviver aquilo que está apagado dentro de você”, explica Mãe Juci. “Você não se alimenta só da comida, mas também da história afrodiásporica”.

A única inovação que Mãe Juci coloca nessa experiência, é na forma de servi-lo, pois, utiliza as cuias tradicionais da culinária amazônica, que segundo ela, também é um resgate cultural, fora disso, nada da receita é modificado, por ser um prato ancestral.

Um cardápio rico

A afrochefa, que une história e culinária, trabalha com um cardápio rico e variado. Isso porque ela vende tudo que tem no tabuleiro de uma Baiana: acarajé, abará, bolinho de estudante, passarinha, mas também oferece a comida típica paraense, como o tacacá, o açaí com peixe ou com charque.

Desde 2023, ela traz uma inovação, que é investir em pratos para o público vegano, a um preço acessível. Velhos conhecidos do público ganham uma versão vegana e regional: moqueca de banana da terra, pirão escaldado com legumes ou com capim santo, o ‘capitão’ – bolinhos de feijão e arroz estão entre suas especialidades.

Parceria com o Sebrae na COP 30

A empreendedora esteve no Sebrae para apresentar seus produtos e ingressar no grupo do eixo de alimentação e bebidas formado para a COP30, que ocorrerá em Belém em 2025. Ao fazer uma leitura do mercado local, Mãe Juci diz que ainda percebe ser um ambiente um tanto fechado para o tipo de alimento que ela oferece. “Sinto a dor na ausência dessa culinária em grandes eventos, por isso vim ao Sebrae para tentar furar essa bolha e está nos lugares onde eu acho que o acarajé e uma Baiana de Acarajé devam estar”, diz.

Seu contato com o Sebrae foi carregado de receptividade e escuta. “Saio do Sebrae muito feliz pela forma como fui recebida e orientada. Vinha com uma expectativa em saber como meu produto seria recebido, porque em todas as portas que a gente bate, a gente recebia um ‘não’. Aqui, foi a primeira vez que alguém se sentou, experimentou e ouviu, porque a gente precisa ser ouvida”.

Ela avalia que poder contar sua história é altamente relevante, já que muito da história africana com o Brasil foi apagada, e isso inclui a gastronomia. Estar no grupo do eixo de alimentação do Sebrae é a oportunidade de manter sua tradição viva. “Sobre a COP30, eu penso que nós, que somos quem sentimos essa dor e esse apagamento, precisamos estar à frente e falando.”

Sebrae e pluralidade

Uma das gestoras do grupo do eixo de alimentação do Sebrae no Pará para a COP30, Edna Santos, enfatizou que a instituição reconhece a grande colaboração histórica de grupos afrodescendentes ao estado do Pará. “O Sebrae deve dar essa oportunidade, esse tratamento igualitário, porque nós somos plurais, e nada mais do que justo que a cultura afro, nortista, esteja presente através do eixo de alimento da COP 30”, ressaltou. Esse grupo, segundo ela, terá uma série de capacitações e instrutorias para que a COP30 seja um lugar de fomento dos pequenos negócios em Belém.

Restaurante Acarajé da Juci D’oya

Contato: 91 98242-7370

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