ASN PA Atualização
Compartilhe

O miriti na Marquês de Sapucaí

Conheça a história do artesão José Ferreira, que forneceu mais de quatro mil peças em miriti para a escola de samba Acadêmicos do Grande Rio
Por Da Redação
ASN PA Atualização
Compartilhe

Quem assistiu ao desfile da Acadêmicos do Grande Rio nesta terça-feira (04), vice-campeã do carnaval do Rio de Janeiro, notou a perfeição e o colorido das peças de miriti utilizadas para compor o enredo da agremiação, que homenageou o Pará neste ano com o tema “Pororocas Parawaras: As Águas dos Meus Encantos nas Contas dos Curimbós”. Os itens foram produzidos no município de Abaetetuba, nordeste paraense, pelo artesão José Roberto Ferreira, que disponibilizou cerca de 4.200 peças como cobras, barcos, canoas, araras, e imagens de Nossa Senhora de Nazaré, que invadiram a Marquês de Sapucaí.

O artesão contou que a confecção das peças seguiu todas as especificações da escola, incluindo detalhes como uma imagem de Nossa Senhora de Nazaré dentro de uma casinha rodeada de flores, usada em fantasias. Ele recebeu fotos dos figurinos para garantir que suas peças seguissem as cores determinadas.

“É gratificante esse reconhecimento pelo trabalho. Temos tantos artesãos de renome, e eles me procurarem… é algo muito interessante para o meu trabalho”, disse ele, emocionado.

Além de peças que retratam a fauna amazônica, o artesão também produziu peças em palha, paneiros, abanadores e bonecas de patchouli, que compuseram fantasias de várias alas da escola de samba. Depois do orgulho de ver sua arte na Marquês de Sapucaí, José projeta novas oportunidades com essa vitrine nacional. “As pessoas vão ver, vão querer saber quem fez, como podem encontrar. Torço para que o meu artesanato vá cada vez mais longe”, vibrou ele.

Artesanato como legado

Na família do paraense, nascido em Abaetetuba, artesanato em miriti é um legado passado de pai para filho. Segundo José, sua família trabalha com essa arte há quase um século. “A nossa família vai completar 90 anos nessa atividade. Meus tios, meus pais são os pioneiros do miriti em Abaetetuba”, relata. “Eu estou completando 40 anos de artesanato. Comecei com 11 anos e já participei de 40 Círios seguidos. Nunca faltei um Círio”, conta ele.

Atualmente, a produção das peças recebe o reforço da esposa e de sua irmã. A demanda aumenta especialmente em grandes períodos festivos como o Miriti Fest e o Círio de Nazaré, quando ele chega a contratar de 10 a 12 pessoas, dependendo do fluxo de produção.

José Ferreira: arte de fabricar peças em miriti vem da família. Foto: Arquivo pessoal.

A matéria-prima para confecção das peças é encontrada nas ilhas que compõem a região. José explica que tudo na palmeira do miritizeiro é aproveitado. Da “braça”, são retiradas as talas, usadas na confecção de abanadores, tipitis e paneiros. Já a “bucha”, que no passado era descartada nos rios, hoje se transforma em diversos itens artesanais produzidos no município. Isso faz reflete em um trabalho sustentável que já lhe rendeu grandes frutos.

Parceria e visibilidade

José já participou de várias feiras realizadas pelo Sebrae no Pará, como a Feira de Artesanato do Círio (FAC), que proporcionaram visibilidade e fechamento de negócios. “A FAC é visibilidade. Lá é muito bom mesmo, porque é a principal feira do Círio”, explica, destacando a presença de muitos turistas e a oportunidade de prospectar novos clientes. Para ele, “o Sebrae é um parceiro muito grande do artesanato, dos artesãos, não só meu”, explica.

O fato da escola fazer um desfile com este enredo, justamente no ano da realização da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30), marcada para novembro, em Belém, faz sentido para o artesão, que é acompanhado pela equipe técnica da Agência Tocantins do Sebrae/PA, que fica em Abaetetuba. Com décadas de experiência na área, ele também já passou por capacitações e workshops de fortalecimento do setor, oferecidos pela agência.

“O empreendedor é acompanhado pelo Sebrae no Pará há mais de 20 anos por meio da agência do Baixo Tocantins. Oportunizamos a ele o acesso a várias feiras de artesanato, entre elas, a Feira de Artesanato do Círio (FAC), que é realizada em Belém, e a feira do Sebrae na Sua Praia, que é realizado em Salinas. Além disso, ele também já teve suas peças levadas até para exposições no Rio de Janeiro e já foi atendido por programas nacionais do Sebrae, então ficamos muito felizes em ver toda essa cultura paraense, todo esse trabalho com miriti, ganhar a Marquês de Sapucaí”, destaca Marilene Pinto, gerente da Agência do Baixo Tocantins do Sebrae no Pará.

  • Carnaval
  • COP 30
  • cultura empreendedora
  • Empreendedorismo