Uma oficina de miriti voltada ao público abriu a programação da Casa Pará, espaço da En-Zone, a Zona do Empreendedorismo do Sebrae no Pará durante a COP 30. A atividade atraiu pessoas de todas as idades, curiosas sobre a arte de produzir peças dos mais diferentes formatos, cores e tamanhos a partir da fibra da palmeira do buriti. Os participantes receberam instruções de ninguém menos que o mestre de miriti Valdeli Costa Alves, de Abaetetuba.
Conhecido por seu papel fundamental na preservação e na transmissão dessa arte tradicional paraense, mestre Valdeli é um dos fundadores da Associação Arte Miriti de Abaetetuba (Miritong), criada em 2005 para capacitar novos artesãos e fortalecer a cultura local, e também é figura central no festival Miritifest. Há dois anos ele e outros três mestres – Joel Cordeiro e o casal Ivan e Síria Leal – integram o “projeto AdMiriti”, coleção de mobiliário amazônico desenvolvida pela Guá Arquitetura em regime de colaboração com os artesãos de Abaetetuba.
O público recebeu moldes semi-prontos para dar a finalização desejada. Fizeram para a oficina. Os amigos Thyago Oliveira, 18 anos, e Evelyn Farias, 20, inscreveram-se pelo perfil da Casa Pará no Instagram para participar da oficina com mestre Valdeli. Durante uma visita ao Museu da Amazônia, eles viram uma roda gigante em miniatura toda feita em miriti e ficaram interessados em conhecer melhor o processo de confecção do artesanato. “A gente sempre vê os brinquedos no Círio, mas, não tem ideia de como eles são feitos. E isso é muito interessante”, comentou Evelyn, exibindo o pássaro em miriti que ela mesma fez.

Moradora de Ananindeua, Francisca Luzia Magalhães do Rosário, 64, também quis matar a curiosidade sobre o processo. Fã dos objetos feitos em miriti que ela sempre compra para guardar de lembrança da quadra nazarena em Belém, ela não perdeu a oportunidade de receber de um mestre do artesanato as orientações para moldar a sua própria peça. “Quando eu soube disso aqui, eu disse: ‘Eu quero’. Fiquei esperando a minha vez e agora tenho um passarinho de miriti feito por mim, literalmente, para levar e guardar junto com os que eu já tenho em casa”, disse.
Após a oficina, mestre Valdeli se juntou aos colegas Ivan e Joel para participar de um bate-papo com o público no Açaí Talks, roda de conversa que acontece todo os dias com artistas da região na Casa Pará. As apresentações couberam aos arquitetos Luís Guedes e Pablo do Vale, idealizadores do projeto AdMiriti, que trabalha o conceito de design colaborativo, combinando o conhecimento técnico e a visão contemporânea da Guá Arquitetura com a habilidade manual e os saberes ancestrais dos mestres artesãos para a criação de móveis como poltronas, mesas de centro e outras peças.
A coleção AdMiriti ganhou espaço em eventos como a Semana Criativa de Tiradentes, a 14ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, e a COP 30, na Green Zone e En-Zone. Valdeli, Joel e Ivan compartilharam um pouco de suas trajetórias na arte de esculpir a fibra do miriti e da importância de valorizar esse ofício, transmitido para filhos e netos.
“Como a gente tá em plena COP eu quero aproveitar para dizer que a nossa atividade é a mais ecologicamente correta da região Norte do Brasil. A gente vive em perfeita harmonia com a palmeira de onde extraímos a matéria-prima do nosso trabalho. Tenho essa grande satisfação de poder falar que o que eu faço não agride o meio ambiente, não explora mão de obra infantil e nem incentiva as queimadas”, disse.
Mestre Ivan falou da relação com a Guá e o quanto a influência de Luís Guedes e Pablo foi determinante para abrir a sua visão de mundo, assim como a participação no Empretec, principal programa de formação de empreendedores do Sebrae. “Há mais de 10 anos a gente vem dizendo que o miriti é a nova cadeia produtiva da Amazônia. Agora a gente começa a provar e chamar a atenção para isso”, defendeu. E expôs os planos de criar uma espécie de escola de artesãos para fortalecer a atividade. “Estou querendo deixar um legado e pensando em montar cursos, fazendo com que as pessoas se empoderem desta riqueza que é nossa, desta tecnologia que a gente tá criando para que a gente possa ter um estado melhor”, contou ele.
Uma das estruturas que compõem o espaço da Casa Pará na En-Zone traz a assinatura de mestre Ivan: o pavilhão de miriti, que já integrou a Bienal Internacional de Arquitetura em São Paulo.
A En-Zone é uma realização do Sebrae/PA, tem a operadora Claro como parceira de conectividade, patrocínio da Hydro e Sicredi e apoio institucional da Prefeitura de Belém, Governo do Pará e Governo Federal.

