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Pará testa solução de baixo custo para reciclagem de vidro na COP30

Equipamento itinerante tritura garrafas, reduz volume de resíduos e fortalece cooperativas de catadores
Por Adna Figueira
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Que a geração de lixo em escala global representa um dos maiores desafios para o planeta, isso é de conhecimento amplo. O mesmo se aplica ao fato de que a reciclagem, a compostagem, a implantação de aterros sanitários adequados, além da redução do consumo, são medidas essenciais para mitigar os impactos ambientais. Mas a gestão de alguns tipos de resíduos trazem um desafio extra. É o caso do vidro, cujo índice de reciclagem no Brasil não chega a 12%, enquanto o descarte soma quase 2,2 milhões de toneladas anuais. Uma alternativa que pode reduzir esse passivo ambiental foi apresentada na noite desta terça-feira (18) na En-Zone, a Zona do Empreendedorismo do Sebrae no Pará, dentro da programação da COP30.

Trata-se do “Moinho Formiga”, um equipamento itinerante que tritura garrafas e recipientes de vidro transformando-os em matéria-prima reutilizável para reciclagem. Essa trituração facilita a logística reversa do vidro, reduz o volume de resíduos e gera lucro, especialmente para cooperativas de catadores. A COP30 foi o primeiro dos grandes eventos realizados na capital a contar com a utilização do maquinário, por meio de uma parceria entre o Sebrae Pará, a Associação Brasileira de Bebidas – via programa Glass Good – e o Governo do Pará, por intermédio da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), todos representados na ocasião.

Cada moinho tem capacidade para triturar até 60 garrafas por minuto. E por se tratar de um equipamento de baixo custo – estimado em torno de 40 a 50 mil reais – é possível fazer uma ampla distribuição pelos locais que tenham maior índice de geração desse tipo de resíduo.

Logística facilitada e ganho para cooperativas

“Nós ficamos muito feliz de ver iniciativas como essa e de entregar, para benefício do projeto Pró-Catadores, uma máquina que vai facilitar a vida de todo mundo, seja das pessoas que consomem, das empresas que fabricam e de toda a sociedade. A gente sai de um volume muito grande de garrafas descartadas – aqui 250 delas vão caber numa bombona de 45 kg – para transformar esse material de novo em vidro após a reciclagem”, comemorou o diretor-superintendente do Sebrae/PA, Rubens Magno.

Na capital, a Cooperativa dos Catadores de Materiais Recicláveis (Concaves), que integra o programa Pró-Catadores, que tem o Sebrae/PA como parceiro, recebe o vidro triturado para fazer a logística reversa através do programa Glass Good, que garante que a economia circular se faça na prática. “Infelizmente, no Pará não existe uma indústria de transformação do vidro. Então, a gente transforma e reduz em 80% o volume desse resíduo, o que vai impactar na logística do transporte até Recife, que é o local mais próximo que temos para receber esse material”, explica Carol Magalhães, consultora do programa Glass Good no Pará e presidente do Instituto de Desenvolvimento Amazônia Sustentável, que faz a incubação técnica da ReciclAssu, cooperativa de reciclagem de Igarapé-Açu.

Impacto social e fortalecimento das cooperativas

“São tecnologias que vêm para auxiliar o nosso trabalho. Com isso, a gente consegue triturar o vidro de maneira segura e acondicionar todo esse material até que tenhamos um volume significativo para direcionar à indústria que vai transformá-lo. E receber esses equipamentos durante a COP 30 é muito importante para mostrar à sociedade que o resíduo que mais polui pode, sim, ser trabalhado e destinado adequadamente”, argumenta Débora Bahia, presidente da Concaves.

Diretoria técnica do Sebrae/PA com catadores e representantes do Governo do Estado. Foto: Selton Martins.

“O Sebrae Pará é o primeiro a apresentar esse equipamento para a capital. Todo o material triturado nesses moinhos é colocado em bombonas e enviado para reciclagem em Recife (PE). A gente tem um planejamento de até o final do ano fazer mais duas ativações para coleta seletiva de vidro em duas praias do Estado. E por que as praias? Porque você precisa um grande volume de vidro para compensar a venda desse material”, explica a coordenadora estadual do projeto Pró-Catadores pelo Sebrae, Georgiane Titan.

Perspectivas para uma política estadual de economia circular

“A ideia é que a gente possa ter uma política de economia circular no estado que coloque o catador como o principal ator, para que ele seja remunerado devidamente pelo serviço que presta. Então, se a gente conseguir emplacar essa mudança e fazer com que qualquer grande empreendimento que comercialize bebidas tenha um equipamento desses, conversando com os municípios, para que condicionem o licenciamento dessas empresas à aquisição deles, a gente consegue dar uma melhor destinação para os resíduos, reduzindo o impacto ambiental e promovendo a inclusão produtiva através da remuneração dos catadores”, explica Rodolpho Zahluth Bastos, secretário adjunto de Gestão e Regularidade Ambiental da Semas.

O Moinho Formiga que atende a En-Zone no Porto Futuro será destinado, ao final da COP30, para uma cooperativa que atua em Algodoal e ficará na praia de Fortalezinha, localizada na Ilha de Maiandeua, onde já existe outro equipamento similar em atuação. “E já estão previstas entregas para cooperativas em Salinas e Salvaterra, com perspectiva de avançar para outros municípios do Estado”, antecipa o adjunto da Semas.

Benefícios ambientais, operacionais e econômicos

Os moinhos oferecem vantagens que vão desde a otimização da reciclagem até a redução de impactos ambientais. Entre os benefícios:

Redução significativa do volume do vidro descartado, facilitando armazenamento e transporte;
Melhoria da segurança no manuseio por catadores, diminuindo riscos;
Otimização da logística reversa, já que o material triturado é mais fácil e seguro de transportar;
Estímulo à coleta seletiva, contribuindo para a economia circular;
Menor impacto ambiental, já que reciclar vidro consome 70% menos energia e emite 20% menos CO₂;
Menos resíduos em aterros e áreas naturais, como praias;
Novas possibilidades de uso do vidro moído, que pode ser transformado em tintas para asfalto, blocos de construção e até substituir parte da areia em concretos não estruturais.

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