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Economia solidária fortalece desenvolvimento sustentável em municípios paraenses

A partir de parcerias para valorizar pequenas cadeias de produção, municípios paraenses envolvem cooperativas, universidade e poder público para fortalecer economia local
Por Da redação
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Práticas sustentáveis, de inclusão social e de estímulo ao empreendedorismo, têm norteado ações e demonstrado o poder da cooperação para transformar realidades, em cidades como Parauapebas e Canaã dos Carajás, na região sudeste do Pará, e Abaetetuba, localizada na região nordeste paraense.

Em Canaã dos Carajás, a economia popular e solidária vem sendo fortalecida com o apoio de instituições parceiras. Durante a 4ª Conferência Municipal de Economia Popular e Solidária, realizada em novembro de 2024, lideranças locais discutiram a importância da inclusão produtiva e da autogestão para o desenvolvimento social e econômico do município.

Para Marlene Cruz, diretora técnica do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e representante da Secretaria de Desenvolvimento Social, da prefeitura municipal, o fortalecimento dos grupos solidários é essencial: “o que a gente busca nessa conferência é fortalecer os grupos solidários, fortalecer esse movimento para fazer com que a população tenha mais reconhecimento”.

“Essas atividades econômicas, organizadas de forma democrática, surgem como uma alternativa, uma forma para que as pessoas possam gerar trabalho e renda, estimulando a autogestão e a educação solidária”, comenta o professor da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Pará (UFPA), Dr. Armando Lírio, que ministrou palestra magna na Conferência.

Os “grupos solidários” canaenses são coletivos, formados sobretudo por mulheres do município que atuam nas áreas de produção de confeitos com insumos regionais, artesanato, agricultura familiar, serigrafia, corte e costura, visando gerar renda a partir de uma lógica econômica cooperativista.

Exemplo prático é a história da artesã Maria Alice, que encontrou na economia solidária uma fonte de renda e realização pessoal: “É importante demais da conta, ajuda demais lá em casa”, relatou.

Em Parauapebas, duas iniciativas destacam a união entre sustentabilidade, geração de renda e empoderamento. O município, que detém o maior PIB do estado e abriga extensas áreas de floresta preservada, é berço do Centro Mulheres de Barro, uma cooperativa de artesãs criada em 2005 a partir de ações de educação patrimonial. Inspiradas em vestígios arqueológicos da Serra dos Carajás, as mulheres transformam a história ancestral em peças contemporâneas de cerâmica, gerando renda e fortalecendo a cultura local.

“Todas nós passamos por um processo de formação e criamos uma afinidade, nos identificando com a atividade, e tendo o pertencimento para cada uma fazer a sua parte. Aqui, temos as ferramentas necessárias para o trabalho em conjunto, num espaço que é colaborativo”, explica Sandra Santos, presidente do Centro Mulheres de Barro.

Outra referência em Parauapebas é a Associação Filhas do Mel da Amazônia (AFMA), que desde 2014 promove a preservação ambiental e o fortalecimento da agricultura familiar através da apicultura. Hoje, a associação conta com 24 famílias associadas e busca expandir sua atuação. O objetivo é inserir o mel da agricultura familiar na merenda escolar do município e construir seu próprio entreposto de mel. “A gente protege a água, o meio ambiente. A gente cria as abelhas e ganhamos o nosso sustento. Essa ideia vai se expandindo cada vez mais”, ressalta Ana Alice de Queiroz, presidente da AFMA.

Miriti mistura criatividade e sustentabilidade

A relação das crianças com o artesanato local em Abaetetuba vem sendo transformada por meio do projeto “Brinquedo da Gente – cativando a infância com a nossa arte”, promovido pela Prefeitura de Abaetetuba. Criado em 2023, durante o MiritiFest, a iniciativa distribui vales-compra para alunos das creches municipais adquirirem brinquedos de miriti diretamente dos artesãos. Essa ação fortalece a identidade cultural desde a infância, movimenta a economia criativa e incentiva a geração de renda para os mestres da arte feita com a fibra amazônica.

Para o artesão Ivan Leal, da comunidade Pirocaba, o projeto tem sido um marco. “Foi algo inovador no município de Abaetetuba e algo muito importante para nós, como artesãos. Isso fez com que houvesse uma diferença no trabalho, que é um trabalho de regime familiar. Devido ao projeto ser tão bom, nós tivemos que mudar a maneira de trabalhar. Não deixamos de fazer aquele trabalho tradicional, mas tivemos que inovar”, destaca o mestre do miriti.

O impacto foi imediato: em 2023, as vendas durante o festival somaram R$ 83,9 mil, crescendo para R$ 87,5 mil em 2024. Com a parceria entre prefeitura, Instituto Multicultura Miriti da Amazônia (IMMA) e Associação dos Artesãos Produtores de Artesanato de Miriti, Ivan acredita que o sucesso ultrapassa os números. “Esse projeto deu uma alavancada no artesanato de miriti. Isso abriu uma expectativa maior para aqueles pais que não conseguem comprar, mas as crianças querem. Então, isso foi de suma importância para nós como artesãos”, reforça. Com novas edições já confirmadas, o projeto segue valorizando a cultura local e garantindo espaço de protagonismo para quem transforma tradição em brinquedo.

Outro parceiro dos artesãos é o Sebrae. A cadeia produtiva do Miriti em Abaetetuba teve um grande salto com o apoio da instituição. “Foram muitos trabalhos de consultoria para a qualidade e diversificação dos produtos, além de apoio para a participação em eventos, como o MiritiFest e a realização da Feira de Artesanato do Círio, que dá visibilidade à arte e gera negócios aos artesãos”, explica a gerente do Sebrae/PA na região do Baixo Tocantins, Marlene Pinto.

Empreendedorismo é o caminho

O Sebrae atua para que o desenvolvimento sustentável, por meio do fortalecimento de parcerias governamentais e não governamentais que fomentem o empreendedorismo, seja cada vez mais presente em todo o estado. A instituição tem o compromisso de articular e fortalecer redes colaborativas, fomentando o desenvolvimento econômico e social por meio de parcerias locais, o que ocorre em Abaetetuba.

Em Canaã dos Carajás, alguns exemplos são Start no Futuro (Sebrae, Prefeitura, UFPA), uma trilha de aceleração de negócios de tecnologia e de impacto; Empretec Mulher (Sebrae, Prefeitura, Secretaria de Desenvolvimento de Canaã dos Carajás e Sala do Empreendedor), uma turma exclusiva para qualificar mulheres empreendedoras; e Exposição Origens Carajás Sebrae, Prefeitura, Secretaria de Desenvolvimento de Canaã dos Carajás e Sala do Empreendedor), loja colaborativa somente de negócios sustentáveis na Feira de Negócios da cidade em 2024.

Já em Parauapebas tem a Rota Carajás (Sebrae e ICMBio), uma trilha de desenvolvimento de capacitações para condutores e agências de Carajás para comercialização da Rota Carajás dentro da Flona, com desenvolvimento de catálogo de roteiros bilíngue para agências; e a Rota gastronômica (Sebrae e Secretaria de Turismo), uma trilha de consultorias para restaurantes de Parauapebas com soluções de inovação e de sustentabilidade com a elaboração de catálogo digital da rota gastronômica bilíngue.