
O Pavilhão Pará, na Green Zone da COP30, recebeu nesta semana um dos debates mais conectados à realidade da Amazônia: a adoção de sistemas agroflorestais, a força da agricultura familiar e o papel das parcerias institucionais para impulsionar práticas sustentáveis no território. O painel “Caminhos da Floresta: Inovação, Bioeconomia e Ação Climática na Amazônia” foi moderado pelo diretor-superintendente do Sebrae no Pará, Rubens Magno, que destacou que “o desenvolvimento da Amazônia passa necessariamente pela valorização do conhecimento tradicional aliado à inovação”.
O encontro reuniu lideranças comunitárias, pesquisadores e profissionais que atuam diretamente no campo. Para Rubens Magno, a missão do Sebrae/PA é justamente conectar quem pesquisa, quem produz e quem inova. Ele elogiou a atuação da diretora técnica do Sebrae/PA, Domingas Ribeiro, com histórica ligação com a agricultura, e lembrou que o fortalecimento da bioeconomia exige um olhar sensível e técnico ao mesmo tempo – qualidades diretamente ligadas ao trabalho da entidade.
O Sebrae tem vocação para o agro e para a floresta em pé. Nosso papel é criar pontes entre o agricultor e a universidade, entre a comunidade e o mercado, entre o conhecimento tradicional e a inovação
Rubens Magno
A mesa iniciou com a pesquisadora Emilie Coudel, do Cirad, que, em sua fala, ressaltou a importância da cooperação científica com agricultores familiares e povos tradicionais. Segundo ela, a parceria entre Cirad, Embrapa, UFPA, Ufra, IPAM e outras instituições têm permitido construir soluções de restauração florestal a partir de práticas reais já aplicadas pelas comunidades. “A gente trabalha junto, em campo, construindo conhecimento com quem vive da terra”, explicou.
A fala e a experiência compartilhada por Vicente Quirino, liderança da agricultura familiar e especialista em sistemas agroflorestais, emocionou o público e exemplificou o trabalho falado. Agricultor, professor da rede pública e referência no nordeste paraense, Vicente contou como a formação permitiu unir saberes ancestrais, ciência e organização comunitária.
“O projeto nos deu acesso ao que parecia distante. Oito agricultores entraram na universidade. Não era só sobre receber um diploma: era sobre sermos reconhecidos como especialistas no que fazemos há décadas”, afirmou.
Ele destacou os impactos ambientais, econômicos e sociais da agrofloresta nas comunidades. Casos como o do agricultor Luciano, que havia abandonado seu lote e retomou o trabalho após o projeto, foram apontados como exemplos de transformação profunda.
O impacto do trabalho do Sebrae/PA também chegou ao Marajó. Representando o projeto Manejaí, do Marajó, o agricultor Teofro Gomes compartilhou as mudanças provocadas pelo manejo sustentável do açaí e de outras espécies florestais. Teofro ressaltou ainda a importância de formar lideranças jovens para dar continuidade ao manejo sustentável na ilha. “As crianças aprendem mais rápido. Por isso eles estão aqui na COP 30: para entender que fazem parte da mudança climática e ambiental. Queremos inspirar essa nova geração.”, afirmou.
O painel mostrou que as soluções para a Amazônia já estão sendo plantadas, cultivadas e multiplicadas no território – e que o caminho para enfrentar a crise climática passa, inevitavelmente, pelas mãos de quem vive e produz na floresta.

