Lideranças do setor público, privado e da sociedade civil se reuniram para discutir caminhos para destravar fluxos financeiros voltados à transição para uma economia de baixo carbono, com foco na Amazônia e em países em desenvolvimento. O painel “Finanças Climáticas: Destravando Recursos para uma Amazônia Sustentável e um Futuro de Baixo Carbono” ocorreu na noite desta quarta-feira (19), no auditório da Casa Brasil, na Praça Waldemar Henrique, em Belém.
Participaram da mesa Fábio Rodrigues, diretor técnico da Equipe de Conservação da Amazônia (ECAM), do Governo Federal; Danilo Zelinsk, Head de Investimento em Inovação para Natureza e Clima da KPTL; e Samara Farias, gerente-executiva de Sustentabilidade na Presidência do Banco da Amazônia. A mediação foi conduzida por Lucas Wolkartte Costa, gerente da Unidade de Gestão da Inovação do Sebrae Roraima.
Entraves no acesso ao financiamento
Segundo Fábio Rodrigues, muitos dos fundos disponíveis não foram desenhados para perfis de povos tradicionais e ribeirinhos. “Esses fundos não são feitos para eles acessarem. Fundos não são feitos pensando nesses perfis”, afirmou ele, apontando que isso limita o acesso ao chamado mercado climático. Ele acrescentou ainda que “fundos não são para serviços, apenas para compras, e não para manutenção dos bens”.
Danilo Zelinsk explicou que a falta de foco em projetos e o ecossistema ainda limitado são fatores que restringem investimentos na bioeconomia da Amazônia, mas destacou que “Hoje temos um ecossistema mais robusto. Com fundos voltados à Amazônia que ajudam o investidor a olhar mais para a região”. Ele reforçou ainda que conectar corporações, startups e comunidades locais fortalece os negócios. “Se eu conseguir conectar a corporação com a startup, ela vai ter mais clientes, gerar vendas, ser mais robusta”, disse.

Samara Farias destacou o esforço do Banco da Amazônia em criar linhas de crédito adaptadas às necessidades dos negócios da Amazônia Legal. “A gente não consegue falar em destravar recursos, pensar numa economia descarbonizada, em investimentos que trabalham com bioeconomia ou sociobiodiversidade, sem diálogo e integração”. Sobre riscos, ela afirmou que a instituição busca compreender os desafios regionais para atender produtores e empreendedores, especialmente os não formalizados, além de captar recursos capazes de alcançar quem o mercado tradicional não atinge.
Soluções e caminhos apontados
O mediador, Lucas Oliveira, citou o Programa Inova Amazônia, do Sebrae, como um exemplo de parceria voltada a soluções para negócios da região. “O Sebrae vem fazendo muito isso. O Bioma Amazônia foi o primeiro a trabalhar com negócios inovadores; hoje já expandimos para outros biomas”, disse.
Fábio Rodrigues reforçou a importância da governança e da capacitação comunitária, defendendo que o acesso ao crédito deve vir acompanhado do fortalecimento de lideranças locais e da formação de jovens. “Quando acessamos recursos para que haja investimento direto nas comunidades, torna-se possível qualificar essas comunidades”, ressaltou.
Danilo destacou que a bioeconomia amazônica é altamente promissora. “A gente acredita muito no poder dessa biodiversidade que a gente tem aqui. Se pensar em números de produtos com alto poder farmacológico, temos cerca de 15 mil ativos amazônicos”, ressaltou. Ele observou, porém, que esses potenciais não chegam às farmácias por falta de biotecnologia e de mecanismos de impacto que mantenham a floresta em pé.
Samara lembrou que produtores precisam de assistência técnica, acompanhamento e pós-investimento para garantir crescimento sustentável. “Temos de ter um olhar para quem estamos fazendo e de onde vem o recurso. Acho muito importante não ter esse público versus privado, mas uma atuação em conjunto”, concluiu.

