Práticas manuais, originalidade, inspiração e muita dedicação são alguns dos requisitos que talentosas mulheres usam em suas criações artesanais na Feira de Artesanato do Círio, que ocorre no Porto Futuro até o dia 15 de outubro, em Belém. Exemplo desse talento é Aline Batista, da empresa artesanal Amazon, de Abaetetuba. Ela iniciou o trabalho com a sogra, Ana Maria. Ambas são da comunidade de Tauerazinho do Beja, em Abaetetuba, e produzem bolsas, sapatos e acessórios com palha e sementes da Amazônia. “Nós identificamos o potencial desses produtos e a importância da bioeconomia para a sustentabilidade da nossa região”, conta Aline, ao lembrar que a família mora em área de várzea, em uma comunidade ribeirinha.
Para expandir a produção, elas fizeram parcerias com artesãos de miriti, que fornecem as embalagens e com o Sebrae, que auxilia com apoio de consultorias, formação de preço, etiquetas, portfólio e site bilíngue. “A partir disso, a gente regularizou a empresa e estamos focando agora em exportação”, ressalta. Atualmente, ela trabalha com mais cinco artesãs da região, que coletam as sementes que são beneficiadas pela empresa, passando pelo processo de secagem para serem transformadas em biojoias.
Este ano, o espaço “Mundo Amazônia”, pensando pelo Sebrae no Pará, reúne peças de artesãos indígenas venezuelanos da etnia Warao, além de indígenas das etnias Kaiapó, Ticuna, Assurini, Xicrin, Xipaya, Parakanã, Arara e Galibi-Marworno. Também é possível conferir o trabalho de empreendedores quilombolas e extrativistas de várias regiões do Estado.
A artesã indígena Naiá Anambé, da etnia Anambé, está na feira representando toda a comunidade, cuja aldeia fica no município de Moju, no Baixo Tocantins. Durante quatro meses, o Sebrae no Pará realizou um trabalho de capacitação com 20 indígenas na aldeia com intuito de prepará-los para o mercado de economia criativa e grandes eventos.
“Trouxemos para Belém colares, pulseiras e outros objetos produzidos com sementes e materiais da nossa floresta. Cada peça carrega a força do nosso território, como esse colar da cobra, feito com ossos de animais que ficaram após as queimadas do ano passado. Estamos reaproveitando o que sobrou da dor, transformando em arte e em força para seguir”, conta a artesã.
Dayse Braga é uma artesã que vive na comunidade quilombola de Intancoã Miri, no Baixo Acará. Ela produz biojoias à base de insumos da floresta que são transformados em colares, pulseira, brincos, cintos e também trabalha com crochê. Aos 41 anos, Dayse, junto com as mulheres de sua comunidade, participaram de vários cursos de capacitação e melhoria de produtos. “Depois dos cursos, a gente já começou a produzir pra poder vender e tirar o nosso sustento daqui mesmo”, finaliza.
Coostafe acredita no ofício para a ressocialização
Beatriz Nascimento tem 29 anos. Ela está tutelada pelo Sistema Penitenciário do Pará onde aprendeu ofício de bordadeira por meio da Coostafe – Cooperativa Social de Trabalho Arte Feminina Empreendedora, um projeto que visa a reinserção social de mulheres privadas de liberdade e egressas do sistema prisional por meio da capacitação profissional e geração de renda. A cooperativa produz artesanato, bordado, costura e outras peças inspiradas na cultura local, com foco no fortalecimento da autoestima e autonomia dessas mulheres. “Hoje eu tenho um ofício e, quando sair, já terei um Norte”, diz Beatriz, ao mostrar uma bolsa com bordado de Nossa Senhora de Nazaré feito por ela. “Eu já sabia desenhar, mas nunca olhei esse dom como uma forma de trabalho. Então, falaram para eu fazer crochê, bordado, para aprender mesmo”, conta a artesã ao admitir que, no início, não gostava muito do ofício, mas que depois da prática, tudo mudou. “Quando você cria com paciência, com foco, pensando em coisas boas, sempre sai algo bom. E hoje vejo o trabalho também como uma terapia”.
A FAC ocorre no estacionamento do Porto Futuro e a entrada é franca.
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