ASN PA Atualização
Compartilhe

Legado: artesã marajoara exporta peças e recebe proposta de negócio após a COP30

Empreendedora Rosilda Angelim, da marca Canybó, integra o Polo de Moda Marajó, em Soure
Por Bruno Magno
ASN PA Atualização
Compartilhe

A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), realizada em novembro deste ano, em Belém, fortaleceu os pequenos negócios paraenses, que estiveram na vitrine para o mundo. Visitantes e moradores da capital tiveram a oportunidade de conhecer como o empreendedorismo faz a diferença na vida dos amazônidas e respeita a floresta.

Um dos exemplos de destaque entre os mais de 800 empreendedores que estiveram nos espaços organizados pelo Sebrae durante a COP30 é o da artesã e estilista marajoara Rosilda Angelim, que está à frente da marca Canybó. O negócio integra o Polo de Moda Marajó, em Soure. Após ter peças como camisas e vestidos expostas na En-Zone, a Zona do Empreendedorismo do Sebrae, ela está em negociações para integrar uma loja colaborativa na cidade de Florianópolis, em Santa Catarina.

“Recebi com muita felicidade essa proposta e conversamos durante o período da COP30, onde os responsáveis pela loja colaborativa tiveram a oportunidade de ver as minhas peças de perto. Eles ficaram encantados com a nossa qualidade, com as estampas. Ainda vamos acertar alguns detalhes, mas creio que dará muito certo, estamos em negociações”, conta Rosilda.

Também após a COP30, ela conta que começou a fornecer suas peças para outros estados do Brasil como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, além do Distrito Federal. São investidores que apostam nas estampas marajoaras para dar mais vida à moda brasileira. Rosilda conta que um dos ícones da cultura e da identidade marajoara, os grafismos dos povos ancestrais da Ilha do Marajó, serve de inspiração para suas peças do vestuário.

“Desde a COP30 nós temos enviados mais de 10 peças por mês para cada um desses estados, então tivemos uma visibilidade muito boa e nossa participação na En-Zone ajudou a levantar isso. Fizemos muitos contatos e trocamos muitas ideias com investidores e interessados. O Brasil está valorizando a cultura amazônica e marajoara, que tem formas e cores únicas”, explica ela.

Persistência

Nascida na comunidade de Quilombo do Bairro Alto, no município de Salvaterra, Rosilda Angelim se mudou para o município de Soure aos cinco anos e lá escreveu a sua história, onde encontrou na costura a saída para uma crise financeira.

Moda Marajoara está em alta após a COP30. Foto: Selton Martins.

“Eu entrei numa depressão e tive que sair dela na marra, porque tinha família, dois filhos e precisava ajudar meu marido a cuidar deles. Foi então que mergulhei de cabeça na costura, que já era algo que minha mãe, costureira de alfaiataria, fazia. Mas, diferente dela, parti para confecção. Eu já conhecia o grafismo Marajoara e um dia, do nada, pensei: que tal se eu colocar grafismo nas peças que eu faço. Foi assim que comecei fazer roupas e produzir bolsas”, conta.

O processo até a ascensão foi doloroso, segundo ela, até contar com o apoio do Sebrae/PA. “Mas também aprendi que sozinha eu não ia acontecer, não ia fluir que eu precisava que outras mulheres seguissem comigo. Dez anos atrás, eu ainda dando muita topada, apareceu na minha vida o Sebrae Pará”, recorda. A capacitação, com duração de dois anos, começou com 44 mulheres e terminou com 63. Hoje, todas trabalham com o grafismo marajoara aplicado à moda.

Pioneira na moda marajoara, a empreendedora integra o Polo de Moda Marajó, gerenciado pelo Sebrae/PA em Soure, Salvaterra e Cachoeira do Arari, ao lado de outras mulheres da região. “Ser uma preta na moda é difícil, mas, depois que você se autoidentifica e sabe falar, sabe passar para as pessoas o que você quer, com a tua origem e a ancestralidade que pulsa na tua veia, você sabe que está no caminho certo”, aconselhou.
 
Polo de Moda

O Polo de Moda Marajó foi criado a partir de um acordo de cooperação assinado pelo Sebrae/PA, Governo do Estado, Prefeituras de Soure e Cachoeira do Arari, Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). O objetivo do Polo é desenvolver a produção de moda artesanal local, utilizando referências culturais da arte marajoara, além de fomentar a visão empreendedora nos produtores locais. Assim, busca agregar inovação, tecnologia e sofisticação, gerando valor, volume de produção e novas oportunidades de emprego e renda.

  • COP30
  • cultura empreendedora
  • Empreendedorismo