Agência Sebrae de Notícias

A culinária paraense é elogiada por conectar saberes ancestrais, a vasta biodiversidade amazônica e a identidade local, oferecendo uma experiência sensorial marcante. A utilização de ingredientes nativos da Amazônia, como o açaí, tucupi, jambu e uma variedade de frutas, proporciona uma imersão singular no modo de preparo da gastronomia regional. Essa singularidade se reflete também em uma coquetelaria criativa e autêntica que valoriza insumos locais. Na En-Zone, Zona do Empreendedorismo instalada pelo Sebrae Pará na área do Porto Futuro, dentro da programação da COP30, os visitantes podem conferir algumas dessas criações em estandes como o da Azo Drinks e do Muamba Bar.

Ísis Farias é head bartender do Azo Drinks, que tem foco em coquetelaria clássica, mas que também investe em insumos regionais. É ela quem prepara para os clientes que visitam a En-Zone algumas das bebidas que fazem parte da carta de drinks e coquetéis da casa. O cliente pode escolher entre cinco coquetéis alcoólicos e dois não alcoólicos que trazem elementos regionais como a casca da preciosa, cumaru e jambu.

Ísis Farias tem foco em coquetelaria clássica, mas também investe em insumos regionais

Na Azo o cliente pode encontrar, só entre drinks com ingredientes regionais, 12 autorais com toques de especiarias nunca usadas em coquetelaria, em formatos de infusões, extrações e elixires – a famosa garrafada – e a parte dos clássicos. Entre os mais famosos e com maior saída está o drink Maria Isabel, que mistura coco com bacuri e xarope de cumaru, fruto de uma experimentação que transformou sobremesas em bebida.

“Decidimos transformar uma sobremesa típica regional em coquetel. No ano passado ainda não tínhamos esse foco no regionalismo, então a gente produziu o Bonof. Esse ano nós criamos a Maria Isabel em formato de drink, que sai bastante. E temos ainda o Cacau Rosê, que leva um cordial de cupuaçu, mel de cacau e pitaya com destilado, e o Marupiara, que tem uma base de bourbon, aperol – um elixir amazônico – mesclando um blend de quatro especiarias. A gente faz uma extração de maceração de puxuri, piprioca, preciosa e cumaru, em partes diferentes, e depois blenda todas elas. E quando o cliente toma o drink ele consegue sentir o sabor especiado do drink da especiaria”.

A inspiração para o trabalho que desenvolve há dez anos vem da tradição familiar de usar as ervas como recurso curativo. A mãe, nascida e criada no interior, e o pai, descendente de indígenas, ambos de Vigia, sempre exploraram as propriedades terapêuticas de plantas, raízes e sementes. “Minha mãe é uma pessoa que vive à base de chás, especiarias, está sempre experimentando coisas. Aí eu pego o que ela vai testando, levo para dentro do meu bar e dou uma aprimorada”, conta Ísis, que até já criou um drink para homenagear a mãe.

“Eu fiz o Dona Jô. Minha mãe tem um hábito de fazer a própria vitamina C, que é uma serração de beterraba com cenoura, flor de bougainville, casca de acerola no vinagre de maçã e no xarope de demerara. Eu fiz a mesma serração e levei para um drink com cachaça e jamburana feita com Indiazinha (cachaça paraense). Foi um sucesso, tanto que um bar tender que veio de São Paulo me pediu a receita”, ressalta. Ísis já chegou a ficar entre os 50 melhores chefes de bar do Brasil em uma competição, com uma variação do Martini feito a partir da infusão de vermute na bacaba.

Na En-Zone, os coquetéis que têm feito maior sucesso entre os visitantes são o Jambu Mule, feito com cachaça de jambu, limão e gengibre; Amado, mistura de gin, maracujá, cumaru e cravo, e Old Cuban in Belem’R, que une run, limão, hortelã, bitter, brut e preciosa. Extraída da casca da árvore Aniba canelilla, uma planta da Amazônia com cheiro de canela e rosa, a preciosa é utilizada na medicina popular como chá para problemas digestivos, para aliviar tosses e como anti-inflamatório. O óleo essencial é empregado em perfumaria e cosméticos, e a madeira da árvore também é usada em construções.

O primeiro barman de Belém a usar a preciosa como componente de bebidas foi Andrei Xerfan, chefe de bar do Muamba Bar, que também participa da En-Zone. Quem atende o público no estande é Geraldo Melo da Costa Júnior, que atua como barman há dez anos. O que começou como curiosidade e hobby virou paixão. “Meu primeiro contato com um bar foi aos 22 anos, quando fui trabalhar num Bistrô e Café onde tinha serviço de coqueteleria. Fui tentando entender como é que funcionava, me empolgando, foi quando eu percebi que realmente era o que eu queria fazer.”

A necessidade de valorizar suas criações usando os insumos regionais não tardou a surgir. “Quando o Muamba surgiu, ele já veio com essa proposta de explorar os recursos regionais para compor um cardápio atraente e que trouxesse junto essa nossa identidade amazônica. lembro que quando era criança, a minha avó fazia muito esse negócio de banho de cheiro, ervas, garrafadas e basicamente são coisas que se encaixam muito com a coquetelaria porque, se a gente for pensar, anos atrás, basicamente o que eram os remédios de antigamente foram se transformando em bebidas alcoólicas”, conta.

Para a En-Zone, o Muamba trouxe criações como o Tropical Rouge, preparado com urucum, rum, goiaba e tônica; o Araguaia, feito com cachaça, maracujá, cumaru e tônica; e o Chicória Ginger, que tem na composição gin de jambu, chicória, gengibre e tônica, o que de longe é o mais concorrido entre os clientes. “O nome dele já diz tudo. Ele é um drink bem refrescante e que caiu muito no gosto da galera”, conta.

O pavilhão de exposições da En-Zone permanecerá instalado no Parque Futuro II até o dia 21, com visitação aberta das 17h às 23h. A En-Zone é uma realização do Sebrae/PA, tem a operadora Claro como parceira de conectividade, patrocínio da Hydro e Sicredi e apoio institucional da Prefeitura de Belém, Governo do Pará e Governo Federal.