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Casa Pará: design sustentável e negritude amazônica

Espaço para debates leva temas atuais e necessários para a En-Zone até o dia 21 de novembro
Por Ádna Figueira
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A Casa Pará, espaço conceitual cuja proposta é promover uma imersão cultural e sensorial na Amazônia, além de incentivar a reflexão sobre temas relevantes, continua com uma ampla programação na En-Zone, Zona do Empreendedorismo voltada à COP30, instalada pelo Sebrae no Pará no estacionamento do Parque Urbano Belém Porto Futuro I. Nesta quarta-feira (12), o espaço recebeu painéis que abordaram a produção sustentável e a arte como forma de resistência.

O curta-metragem ‘Matinta”, dirigido pelo diretor e roteirista paraense Fernando Segtowick e produzido pela Marahu Filmes, abriu a programação no espaço. Ao fim da exibição, Tayana Pinheiro, da Marahu, falou com o público e destacou a importância da valorização do audiovisual paraense. “A gente tá em um momento muito interessante para o audiovisual paraense, após o advento da Lei Paulo Gustavo, que proporcionou a produção de muitas obras. Não só os novos idealizadores passaram a produzir, como houve novas possibilidades para quem já estava no cenário. E a gente faz arte pras pessoas verem, né? E esse é o gargalo da nossa área, a questão da janela de exibição e distribuição. Então, contar com um espaço como esse, que possam estar difundindo essas obras, principalmente neste momento em que Belém é uma janela internacional para pessoas de todo o mundo, é espetacular.”

Design sustentável que nasce da floresta

Na sequência, o Açaí Talks abriu espaço para a Vedac – Vestígios da Amazônia –, empresa sediada em São Miguel do Guamá, que une manejo sustentável e design na criação de móveis e objetos feitos com madeiras nobres provenientes de manejo florestal sustentável e reaproveitamento de resíduos industriais que seriam descartados, reduzindo a extração de novas árvores e o desperdício. O processo combina precisão técnica e saber artesanal, valorizando o trabalho humano e a identidade amazônica.

A fundadora da Vedac, Jéssica Dalmaso, expôs a trajetória da empresa que tem hoje a missão de valorizar a floresta em pé e dar novo destino aos resíduos do manejo, unindo design, responsabilidade e origem. Atualmente, a Vedac é a única empresa da Amazônia a transformar esses materiais em peças rastreáveis. Ou seja, toda a madeira utilizada pela marca é legal, extraída de planos de manejo que garantem a preservação do ecossistema e o monitoramento contínuo das florestas. Além disso, cada peça traz produzida traz um QR Code que indica a origem da madeira, reforçando a transparência e o consumo consciente.

Paraense e ativista da madeira, Jéssica é formada em Direito, com especialização em Direito Ambiental (PUC-SP) e mestrado em Ciências Florestais (UnB), atuou diretamente com gestão florestal sustentável e aprofundou-se na dinâmica dos ecossistemas amazônicos. Mas, foi nas concessões florestais – áreas públicas manejadas sob critérios rigorosos de sustentabilidade – que ela compreendeu o manejo como um pacto coletivo pelo futuro da Amazônia, capaz de redistribuir benefícios para comunidades locais, municípios de baixo IDH e instituições como o ICMBio, Ibama, Ideflor e o Serviço Florestal Brasileiro.

O design sustentável da marca resulta em peças únicas, que transformam ambientes com autenticidade e propósito. A proposta atrai arquitetos e designers em busca de exclusividade e responsabilidade ambiental. A empresa também desenvolve coleções em parceria com profissionais do setor, mostrando que é possível unir estética, funcionalidade e respeito ao meio ambiente. Atualmente, a Vedac reúne 11 designeres, cinco deles paraenses.

A arte como expressão de resistência

Fechando a programação do dia, o Açaí Talks recebeu o painel “A Amazônia é Preta” reuniu o ativista e advogado Paulo Victor Squires e os artistas plásticos Petchó Silveira e Éder Oliveira, que também têm obras em exposição em um dos ambientes da Casa Pará. Mediador do quadro, Paulo Victor conduziu um bate-papo com os convidados sobre a arte produzida nas periferias como instrumento de visibilidade das populações negras e a necessidade de ampliar os espaços que permitem mostrar o trabalho desses artistas, nos mais diversos segmentos.

O painel trouxe vários recortes da história e realidade das comunidades afro-amazônicas: identidade, ancestralidade, resgate, marginalização, todos eles presentes na obra de Éder e Petchó, que têm seus trabalhos reconhecidos nacional e internacionalmente.

“A gente sempre imagina que a Amazônia tem uma população indígena muito forte, mas, há uma população negra muito grande aqui. O Pará tem mais de 70% de pessoas negras, e quando se revela esse número as pessoas se surpreendem. Há quase 600 territórios quilombolas no Pará, para onde foram trazidas mais de 30 mil pessoas escravizadas, segundo estudos da Universidade Federal do Pará”, relata Paulo Victor, que vem de uma família de imigrantes barbadianos (proveniente da Ilha de Barbados, no Caribe) e, além de ativista da causa negra, também é pesquisador.

“Esse painel dentro da programação da Casa Pará é muito importante por trazer esse debate sobre a visibilidade da população negra e mostrar quem são essas pessoas que estão aí. Porque a gente tem uma cultura africana – presente nas artes plásticas, na culinária, na música, no artesanato – muito forte e que teve uma intercessão com a cultura de outros povos que existiam aqui. É um tema que ainda tem muita invisibilidade dentro do nosso território por conta do olhar que ainda insiste em só enxergar a presença indígena. Então é preciso trazer esse debate para a En-Zone, para os empreendedores e a população em geral para que todos entendam que esse também é um território negro.”

A Casa Pará segue trazendo exposições de artistas paraenses, performances, rodas de conversa e debates diários, com foco em design sustentável, hospitalidade e economia circular, dentro da programação da En-Zone, que estará aberta ao público até 21 de novembro, das 17h às 23h, com entrada gratuita.

A En-Zone é uma realização do Sebrae/PA, tem a operadora Claro como parceira de conectividade, patrocínio da Hydro e Sicredi e apoio institucional da Prefeitura de Belém, Governo do Pará e Governo Federal.

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